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Suicídio: não deixe romper as cordas que mantêm a vida

VONTADE DE MORRER É APENAS A PONTA DO ICEBERG, NO QUAL EXISTE UMA MONTANHA DE PROBLEMAS OCULTOS POR DEBAIXO D’ÁGUA; DIÁLOGO ESTIMULA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS DOENÇAS QUE LEVAM AO COMPORTAMENTO SUICIDA.

O quê o mantém vivo? A convivência em família, a rotina com amigos, os desafios do emprego, os sonhos a realizar, a fé e esperança em um futuro melhor? Saiba, então, que soma de vários desses e outros fatores formam uma espécie de rede de sustentação para o querer viver. Assim, na medida em que alguns dos elos se rompem, as chances de desistir da vida aumentam e, quando não restar mais nada ao que se apegar, viver não fará mais sentido.

Quando a morte é a única solução na qual o indivíduo vê como possibilidade de acabar com o próprio sofrimento, é porque as cordas que o mantêm vivo estão enfraquecidas. O suicídio está, em quase 100% dos casos, ligado a alguma doença mental, muitas vezes, até, não diagnosticada por falta de informação ou da pessoa não aceitar que esteja doente. Entretanto, sabe-se que nove em dez casos poderiam ser prevenidos se tratados, conforme orienta o médico psiquiatra Dr. Thiago Vinicius Feliciano Moreira.

“Vemos o suicídio como um iceberg, em que a gente só vê a ponta, mas, embaixo, que é muito maior, vem uma série de fatores. É não só a presença de uma doença, mas estão acontecendo várias coisas com o indivíduo que o levam a uma situação extrema. É, por exemplo, alguém que já tem um quadro depressivo que não está bom e aí vai passando por situações do dia a dia que o levam ao desespero. A ideia de morrer, para a pessoa doente, é um alívio à dor e o sofrimento”, explica.

Os transtornos de humor, segundo o psiquiatra, são as doenças mais comuns em quem pratica o suicídio. “Dentro desses está a depressão, mas ainda podemos citar outros problemas, como a dependência de drogas ou demais substâncias, as doenças da personalidade, como a esquizofrenia e daí por diante. O importante é que, como doenças, temos a oportunidade de tratar, ou seja, o suicídio pode ser evitado. E, por isso, é importante que se fale de sintomas”, alerta Moreira.

“A pessoa tende a dar indícios de que está doente. Desde sinais de desespero, desesperança, como se a vida não tivesse mais sentido, como se as coisas não fossem mais melhorar, como se o futuro fosse algo que viesse só trazer coisas mais negativas. Também é preciso verificar sinais de mudança no comportamento, principalmente uma pessoa muito impulsiva, que age sem pensar, pode ser um sinal de alerta. Neste sentido, mesmo que ela não queira ajuda, é preciso tratar preventivamente”, ressalta.

Diálogo

De acordo com Dr. Thiago Vinicius Feliciano Moreira por muito tempo se evitou falar em suicídio, com a crença de que fosse um incentivo a mais casos. Hoje, alega, há o consenso de que o tema precisa ser debatido. “Isso dá espaço para que as pessoas tenham a oportunidade de falar sobre suas emoções, sentimentos, ver que há tratamento e, assim, prevenir. Ao contrário da publicação do suicídio com maus julgamentos, expondo a vida da pessoa. Isso não pode se dar no sentido pejorativo. ”

Na avaliação de Moreira, os casos de transtornos mentais, que podem ter como consequência drástica o suicídio, têm aumentado atualmente. “Isso porque a vida tem exigido muito mais da gente. Os fatores de estresse, de baixa qualidade de vida ou, até, de pessoas que criam expectativas e se envolvem em situações que geram sofrimento a tal ponto que se desestruturam. Tem que pensar em levar ao tratamento, mesmo que contra a vontade. As doenças mentais têm essa dificuldade a mais, na qual as pessoas não têm uma crítica de que estão doentes”, indica.

“A pessoa tende a dar indícios de que está doente. Desde sinais de desespero, desesperança, como se a vida não tivesse mais sentido”.

Assim como uma doença física, a doença metal precisa ser tratada. “Gosto muito de comparar para que as pessoas consigam ver que também é uma doença. Se a gente está vendo que alguém está lá, em casa, enfartando, com dor no peito, mas não quer ir ao médico, o que a gente vai fazer? Você vai ligar para a ambulância, vai levar ao médico, vai dar remédio mesmo que a pessoa não queira. Você não vai ver alguém morrer na sua frente e não vai fazer nada”, ilustra Dr. Thiago Moreira.

“A religião ajuda muito porque é aquele fio de cabelo que segura o paciente vivo”.

Apoio

Depois de identificados sinais de comportamento suicida, é preciso tratar as doenças que são a causa de um possível suicídio e, para isso, o psiquiatra destaca uma série de elementos. “Para um paciente com risco de suicídio existe uma rede de apoio e a religião, a fé, é uma corda da rede. A família é uma corda da rede. O trabalho é uma corda da rede. O tratamento é uma corda da rede. O papel social é uma corda. Então, existem várias coisas que podem o manter vivo”, enumera.

A espiritualidade, para o médico psiquiatra, sempre vem para somar em um tratamento. “Muitas vezes essa questão religiosa, não no papel do julgamento, se é pecado ou não, mas a religião ajuda muito, porque é aquele ‘fio de cabelo’ que segura o paciente vivo”, sinaliza.

O problema, complementa Moreira, é quando essas cordas começam a arrebentar. “A pessoa não pode contar com a família, perde o emprego, está doente. É um somatório e, é neste momento que costuma acontecer a tentativa de suicídio. Se alguma coisa não for feita, a chance de a pessoa morrer é bem grande. Do mesmo jeito que uma pressão alta não tratada pode levar a um infarto, uma depressão, um transtorno bipolar que não foi tão bem tratado também pode levar à morte”, contextualiza. Para prevenir casos de suicídio, é preciso, primeiramente, entender que ele é resultado de doença mental; e, também, que existe tratamento. “Começamos a perceber que falar da prevenção ao suicídio tem dado resultados positivos, a exemplo da campanha Setembro Amarelo. Ao final das palestras, as pessoas trocam experiências, tiram dúvida, dizem conhecer pessoas que estão com os sintomas. Então, vemos que há rede de apoio e começamos a ter avanços”, argumenta.

Do mesmo jeito que uma pressão alta não tratada pode levar a um infarto, uma depressão que não foi tão bem tratada também pode levar à morte”.

Foto: Cesar Pilatti

Para o médico psiquiatra, Dr. Thiago Moreira, nove em cada dez casos de suicídios poderiam
ser prevenidos e tratados

Conheça os dez sinais apontados pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) como preventivos ao suicídio:

  • Transtornos mentais;
  • Histórico pessoal;
  • Ideação suicida;
  • Fatores estressores crônicos e recentes;
  • Organizar detalhes e fazer despedidas;
  • Meios acessíveis para suicidar-se;
  • Impulsividade;
  • Eventos adversos na infância e na adolescência;
  • Motivos aparentes ou ocultos;
  • Presença de outras doenças.

Falar é a melhor solução!

Fonte: setembroamarelo.org.br

Você sabia que em uma sala com 30 pessoas, cinco delas já pensaram em suicídio? O suicídio é um problema de saúde pública que vive, atualmente, entre a situação do tabu, preconceito e do aumento de suas vítimas. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. É como se a cada 45 minutos um brasileiro morresse vítima do suicídio ou um suicídio a cada 40 segundos. Tem sido um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário a pessoa buscar ajuda e que haja atenção de quem está à sua volta. Faça download gratuito do material completo da campanha setembro amarelo “Falando abertamente sobre suicídio em: www.setembroamarelo.org.br/download/falando_abertamente_sobre_suicidio.pdf.

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