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Desenvolvimento Humano: Trabalho para a Vida Toda

“Para que seja possível a educação de si mesmo, exige-se o autoconhecimento como fundamente indispensável. Esse autoconhecimento é conseguido tanto pela observação crítica e pelo julgamento dos próprios atos como também pelo julgamento de nossas ações por parte dos outros.”

(Carl Gustav Jung)

DESENVOLVIMENTO HUMANO: TRABALHO PARA TODA A VIDA
Crédito imagem: https://br.freepik.com/.

Ouvir e conhecer uma única memória da vida de uma pessoa pode ajudar-nos a compreender toda sua trajetória. Há alguns anos me dei conta de que conhecia muito pouco da vida do meu pai, das vivências de sua infância. Seu trabalho como motorista de caminhão, percorrendo o Brasil do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), literalmente, manteve meu pai longe de casa inúmeras vezes durante minha infância e adolescência. Não tivemos, e não criamos, ocasião para conversas mais profundas entre pai e filha, ou mesmo como estimulo à curiosidade de criança. Criança precisa de tempo! Mas há poucos anos, quando as “fichas caíram”, busquei resolver isto. Fiz-lhe uma visita com a intenção de ouvi-lo, intuindo que compreenderia muitas coisas. Provoquei a oportunidade e perguntei: “pai, como foi tua infância? Qual a primeira memória que lhe vem?”. Então, ele contou um fato dos seus 5 anos de idade, de um desastre com um pote cheio de mel, que buscava alcançar em uma prateleira alta para saciar a fome; situação de pobreza e necessidade. Chorei. Emoção que também surge agora, ao escrever. Mas minha intuição estava certa: compreendi e sanei muitas questões que por décadas me alfinetaram a alma.

Por que começo este texto com um relato pessoal?

No volume 4 da obra coligida de Carl G. Jung (1871-1961), há um artigo intitulado “A importância do pai no destino do indivíduo”, escrito há mais de cem anos e revisto durante sua carreira como médico psiquiatra e psicólogo. Neste artigo Jung trata da influência dos aspectos psicológicos dos pais, mais especificamente do pai, na formação da psique e no desenvolvimento dos filhos.

Quem já conviveu com crianças sabe o quanto elas são observadoras e atentas ao ambiente e contexto que as circunda. Percebe que palavras têm pouco efeito, que a criança aprende, essencialmente, pela força do exemplo. Na compreensão da Psicologia Analítica, quanto menor a criança mais envolvida pela psique dos pais ela está. A este “envolvimento” Jung denominou participation mystique (participação mística), termo tirado da obra do antropólogo Lévy­Brühl. É uma dependência, como se um cordão umbilical psíquico mantivesse a criança vinculada às emoções, afetos, pensamentos e comportamentos dos pais. Todo este processo acontece de forma inconsciente e, em algum momento entre o fim da fase da infância e a adolescência começa a acontecer a ruptura, o corte deste cordão. Eis o principal motivo para a conhecida crise da adolescência.

Contudo, muitas vezes o corte deste vínculo psicológico não se dá de forma satisfatória e a pessoa fica identificada com o pai ou com a mãe, ou, ainda, com ambos. Permanece uma ligação que poderá prejudicar a adaptação necessária a uma pessoa às atividades, compromissos e relacionamentos da vida adulta. A possibilidade do desenvolvimento psíquico pleno de uma pessoa e a formação de sua personalidade precisa acontecer de forma consciente. É sair do estado inconsciente de si, próprio da infância, como dissemos acima, para uma autêntica e profunda consciência de si mesmo.

Percebemos, portanto, que o desenvolvimento humano não cessa com a entrada na vida adulta, em torno dos 21 anos de idade. Somos chamados a desenvolvermo-nos até atingir a totalidade psíquica, a maturidade, caracterizada pela responsabilidade e autonomia para escolher e decidir, pela determinação, resiliência e coragem. Para tanto, podemos e devemos formar e educar nossa personalidade, investir em nosso desenvolvimento como seres humanos, independente de qual fase da vida adulta estejamos. Somente assim é possível saber, com plena consciência, quem realmente somos, e capacidade para ver o outro como realmente ele é.

Finalizo com um convite: converse e ouça seus pais e seus avós.

Abraço!

Lúcia Fátima Reolon dos Santos

Psicóloga – CRP 08/26098

Contatos: (45) 99107.3344 / luciareolon.psicologa@gmail.com

Pós-graduada em Imaginação Ativa; Pós-graduada em Psicologia Analítica: Clínica Junguiana; Graduada em Psicologia; Pós-graduada em Ensino Religioso; Graduada em Teologia.

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