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Alergia Alimentar Grave: Uma história de superação, conscientização e muito amor

Alergia Alimentar Grave: Uma história de superação, conscientização e muito amor

Quando Jheniffer Veronica descobriu que o filho Murilo, então com apenas sete meses, tinha alergia à proteína do leite de vaca, a vida da família mudou para sempre. As idas constantes ao pronto-socorro, a desconfiança de alguns (“um pouquinho não faz mal”) e a busca por respostas, marcaram o início de uma jornada que, anos depois, se tornaria fonte de inspiração para milhares de famílias.
Hoje, mãe também da Bella – que tem alergias múltiplas (leite, ovo e trigo) –, Jheniffer transformou o desafio em missão: compartilhar conhecimento, quebrar preconceitos e provar que, mesmo com restrições severas, a vida pode ser saborosa e leve

Kethleen Simony/ Agência Berit Press
O choro insistente de Murilo, então com sete meses, era frequente nos corredores do pronto-socorro. A mãe, Jheniffer, já havia perdido as contas de quantas vezes estiveram ali. “Só sei que foram noites em claro, plantões intermináveis e médicos que diziam ser ‘apenas um vírus passageiro’”, lembra.
Até que uma pediatra plantonista fez a pergunta que mudaria tudo: “Já pensaram em alergia à proteína do leite?”. Assim começa uma história que se repete em milhares de lares pelo país. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), 8% das crianças menores de 6 anos, sofrem de alergias alimentares. No Paraná, dados do Sistema Único de Saúde mostram que as notificações de reações alérgicas graves aumentaram 27% entre 2019 e 2023.

O diagnóstico: entre o alívio e o desafio
A confirmação veio como um alívio doloroso: “Saber o que era trouxe paz, mas também medo”, confessa Jheniffer. O leite, ingrediente básico na alimentação infantil, tornou-se uma ameaça. A adaptação mudaria por completo a rotina da família.
A pediatra Dra. Carolina Mie Sato não só confirmou o diagnóstico como se tornou uma aliada fundamental. Com Bella, a segunda filha de Jheniffer, o cenário foi mais complexo: alergias múltiplas a leite, ovo e trigo. “Era como aprender a cozinhar de novo”, descreve. Mas desta vez, a experiência fez diferença: aos três meses, a pequena já tinha seu quadro identificado e controlado.

A vida virou de ponta-cabeça (inclusive na cozinha)
A daptar a rotina à alergia alimentar foi como aprender a viver de novo. Em meio à pandemia, com poucos recursos, Jheniffer transformou a cozinha em laboratório. Testou combinações improváveis: farinha de arroz com fécula de batata, leite de coco caseiro, ovos de chia. Cada acerto era uma vitória.
Anos depois, para amamentar Bella, a mãe cortou leite, ovo e trigo da própria dieta – e emagreceu drasticamente. E mais uma vez, na cozinha, foram tentativas erros e muitas receitas que deram errado. Até encontrar combinações seguras e gostosas. “Aprendi que comida boa não precisa de ingredientes caros ou técnicas complicadas. É sobre criatividade e amor”, conta.

O acidente e o novo ‘salva-vidas’
Quando Bella, então com 2 anos, teve uma reação grave após contato acidental com trigo, a realidade de um acidente quase fatal e uma corrida para a emergência do hospital, fez a família ir em busca de socorro “instantâneo”. Depois de muita pesquisa, a caneta de adrenalina, foi importada: “Era como carregar um salva-vidas no bolso a cada passeio com a Bella”, lembra a mãe.
O risco de anafilaxia – reação que pode matar em minutos – era como uma sombra na rotina dos pais. “Cada saída de casa era planejada como operação militar: kit de emergência, contatos médicos à mão, plano de ação”, descreve Jheniffer.
E o conhecimento que construiu desta necessidade se transformou em informação compartilhada: “Quando percebi que meu conhecimento podia poupar o desespero de outras mães, criei meu primeiro Instagram”, conta.
Jheniffer passou a postar a rotina nas redes sociais e criou e-books de receitas que viraram sucesso justamente por isso: mostram que dá, sim, para comer bem sem leite, ovo ou trigo – e sem gastar muito.
As vendas dos livros online revelaram que: 70% das compradoras são mães de primeira viagem, enfrentando o diagnóstico recente. “Elas me escrevem dizendo que as receitas salvam não só o filho, mas sua sanidade mental”, conta.

Empatia das crianças
Enquanto muitos adultos ainda questionam (“Um pedacinho não vai fazer mal”), Jheniffer observa algo natural nos pequenos: as crianças simplesmente aceitam e acolhem. “Meus filhos e os amigos sempre perguntam: ‘A Bella pode?’ antes de oferecer qualquer alimento. É uma lição de respeito que deveria ser rotina em todos os ambientes”, reflete.
E esse respeito se traduz em segurnaça: pesquisas do Instituto PENSI mostram que escolas com programas de conscientização reduzem em 40% os acidentes por alergia. “O maior obstáculo não é a alergia, mas sim a desinformação”, resume Jheniffer.

O equilíbrio possível
Hoje, a vida da família mostra que alergias graves não precisam ser sinônimo de isolamento, Murilo desenvolveu tolerância ao leite e Bella participa de festas com seu próprio kit de guloseimas seguras.
A casa mantém zonas livres de alergênicos, sem neurose. “Ensinamos que a alergia é parte da Bella, mas não a define. Ela sabe o que pode e não pode, mas também sabe brincar, estudar e ser feliz como qualquer criança”, orgulha-se Jheniffer. E completa: “Minha maior vitória? Ver minha filha crescer sabendo que sua alergia é apenas um detalhe de quem ela é – uma menina cheia de energia, curiosidade e, com um paladar mais diversificado que muitas crianças sem restrições”.

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