
Cada sorriso cura um pouco:

A história de Daniel, servidor escolar que transforma dor em acolhimento
Kethleen Simony / Agência Berit Press
Em uma escola pública de Cascavel, às 7h da manhã, Daniel de Oliveira Rosa, 49 anos, abre os portões para receber os primeiros funcionários. Servidor público há 21 anos, ele desempenha múltiplas funções: auxilia na manutenção, cuida da segurança, ajuda na cozinha, brinca com as crianças e, muitas vezes, é o primeiro rosto amigo que os alunos veem ao chegar. Mas por trás desse sorriso dedicado, há uma batalha silenciosa: Daniel convive com a Fibromialgia, uma condição crônica marcada por dores generalizadas e fadiga incapacitante.
O diagnóstico que trouxe respostas (e novos desafios)
Daniel sentia dores desde os 14 anos. Na época, achou que artes marciais poderiam “aliviar” o incômodo, como se os golpes pudessem anestesiar o que sentia. Anos depois, já trabalhando, as dores se intensificaram. Colegas de trabalho zombavam quando ele precisava parar para colocar gelo nas pernas. Passou por psiquiatras, clínicos gerais e fisioterapeutas, até que um vizinho sugeriu: “Pode ser Fibromialgia”.
O diagnóstico, há três anos, trouxe alívio, mas também a dura realidade de uma doença sem cura. “Agora é aprender a conviver”, diz ele. Mesmo com medicação do SUS (e, quando falta, recorrendo a remédios e consultas particulares), alguns dias são mais difíceis. “Perdi força nos braços. Trocar uma lâmpada ou usar uma furadeira virou um desafio.”
A Escola como terapia
Apesar da dor, Daniel não pensa em parar. Sua motivação? As crianças. “Às 7h35, quando os alunos chegam sorrindo, querendo abraço, esqueço um pouco a dor”, conta. Alguns percebem quando ele está sofrendo. “Já me viram chorar e pediram silêncio aos colegas: ‘Seu Daniel está com dor’. Isso me emociona.”
Viviane Garcia, mãe de aluno, descreve o impacto dele na comunidade escolar: “Ele está sempre presente, mesmo com as mãos enfaixadas. Minha filha adora ele. O mundo precisa de mais pessoas como o Daniel. Pessoa de boa índole, que realiza o seu trabalho com muito amor.”
Fibromialgia no Brasil: uma doença (ainda) invisível
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a Fibromialgia afeta cerca de 2,5% da população brasileira, sendo mais comum em mulheres. No Paraná, a falta de informação ainda é um obstáculo. Muitos pacientes enfrentam longas esperas por diagnóstico e tratamento no SUS.Daniel sabe bem disso. “As pessoas acham que é ‘frescura’ ou dor passageira. Já quis gritar no mercado: ‘Não aguento ficar em pé!’ Mas como explicar?”
O que mantém a esperança:
Aos dias difíceis, Daniel responde com fé e gratidão. “Deus é minha essência. E as crianças são minha terapia.”
Formado em Pedagogia e com pós em Educação Especial, ele acredita que o conhecimento é como um diamante: “Precisa ser lapidado”. E, citando Jesus, ele finaliza: “Deixai vir a mim os pequeninos.” Para Daniel, eles são a prova de que, mesmo na dor, há espaço para alegria.


